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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Revendo meus hábitos, revisitando o meu lugar...

Moro no coração de Barra de São João (Cidade do Litoral do RJ – Costa do Sol), não que esta anatomia possua tantos outros órgãos, apenas mais algumas artérias rs. Distrito de Casimiro de Abreu - Barra de São João é pequena em extensão, mas grande em problemas. É a prima pobre da “emergente” Rio das Ostras, da “maquiada” Búzios e da não menos conhecida “Cabo Frio”. A Cidade já teve seu destaque histórico na economia pesqueira regional e foi referencial no escoamento da produção do município. De uns 30 anos para cá, quase tudo se encontra direcionado para suportar as atividades terrestres relacionadas com o funcionamento de uma estrutura de produção e exploração de petróleo e de gás. Sofremos um Boom demográfico, que nem mesmo a gorda fatia dos royalties (aproximadamente 54 milhões/ano) foi capaz de modificar o cenário atual, onde é possível perceber facilmente os problemas socioambientais, como: inexistência de redes de coleta de esgoto, precariedade no abastecimento de água, falta de segurança publica, poluição dos corpos hídricos, construções em faixa marginal de proteção, abandono do patrimônio histórico, transporte público insuficiente, saúde de péssima qualidade, supressão de vegetação da restinga, carência de oportunidade profissional, apoio insuficiente a cultura local... Enfim, inúmeras são as deficiências de infra-estrutura que poderiam ser sanadas a partir da atuação do poder publico na criação e execução de políticas de melhoria da qualidade de vida dos munícipes.
A minha rua é um retrato 3x4 de toda realidade local. Dividi os proprietários em três grupos, tentando facilitar a análise: Os “veranistas” (45%); Os “Pernoitistas” (55%) e os domiciliados (5%); Olhando para a porcentagem, uma coisa me assusta... Como pode um lugar com baixa concentração de pessoas durante boa parte do tempo produzir tanto lixo a ponto da coleta diária não dar conta? Parei então para analisar minha produção diária de lixo e percebi que por mais que me esforce, procure reaproveitar, adquirir apenas mediante necessidade, adotar medidas econômicas, racionalizar, entre outras medidas, alguns hábitos e comportamentos da minha casa precisam ser repensadas e não começam pelo controle da quantidade de lixo que produzo, mas sim do que e quanto consumo.
Somo apenas três na casa e consumimos por um batalhão! Quando falo de consumo, trato não só da aquisição de produtos, mas também o consumo de energia, água, papel, comida.  Para refrescar a minha memória e apimentar o minha analise crítica, tomei como base o questionário do http://www.pegadaecologica.org.br/ e descobri que se todos os habitantes da terra levassem o meu ritmo de vida, precisaria de pelo menos três planetas, assustador não?! Isso porque além das escolhas que podemos fazer, como por exemplo: levar um refrigerador com detalhe em rosa ou aquele que consome menos energia? Também existem excessos que por mais que tentamos prever e analisar, acabam fugindo ao nosso controle, como os produtos “indispensáveis” que não deixam claro sua procedência e modos de produção.
Graças à cultura dos descartáveis, obsolescência programada, as responsabilidades que convergem com a necessidade do uso excessivo de veículos e o uso de elétrico-eletrônicos que encurtem distancias e facilitem a comunicação e a interatividade,  que acabamos não enxergando os excesso e os danos ao ambiente que provocamos até “sem querer”. Mas não me isento da responsabilidade, pelo menos dois dos três planetas citados acima eu tenho o poder nas mãos de salvar e tenho me esforçado pra isso,  através do reaproveitamento, consumo consciente - de acordo com a necessidade e a adoção de medidas que economizam energia, água e alimentos.
Conversando com os 3 jovens da minha idade que moram em minha rua, pude perceber um desinteresse pelas questões ambientais, na verdade, estes entendem “torneira fechada” como o ato máximo de consciência ambiental. De fato é uma iniciativa importante, mas é preciso entender que podemos morrer fechando as torneiras que apenas estaremos tratando de cuidar dos 8% referentes ao uso doméstico da água, já que a grande e significativa parcela deste recurso natural está nas mãos das indústrias e dos proprietários, enfim, dos poderosos que utilizam (na grande maioria das vezes de forma inconseqüente, sem levar em conta a escassez) para Irrigação da produção, represamento, abastecimento de tanques de criação de Tilápias, Pitú, entre outros. Também pude perceber alguns hábitos bem parecidos com os meus, como estar sempre em frente aos computadores, com os celulares a mão e nos momentos em família sempre ligados na televisão, e falando nisso... É engraçado como alguns rituais familiares mudaram de figura com o passar do tempo. Antes, as famílias se reuniam envolta das fogueiras, para contar causos e aproveitar o momento para os mais velhos compartilharem experiências, hoje, as estas se reúnem envolta da televisão, e no lugar de experiências valiosas e do aprendizado, permitimos que ensinem a nossos filhos que a base da felicidade está no que consumimos (os marchandages tratam de tornar todo e qualquer produto sem utilidade algo indispensável) e que os problemas socioambientais estão tão distantes, que estamos em uma zona de conforto, afinal, a idéia que a mídia passa é que os problemas ambientais estão apenas lá na Amazônia, Isto tem mudado, mas não o suficiente para as pessoas se enxergarem como parte deste meio ambiente e agentes de transformação.
Minha Cidade é um lugar riquíssimo de belezas naturais, estamos bem na foz de um dos rios mais importantes do Estado do RJ, “O São João”. Somos banhados por um mar exuberante e estamos dentro dos limites da APA do São João, que mantém de forma guerreira um dos mais importantes monumentos geológicos do Estado do Rio de Janeiro, o Morro São João – Um vulcão adormecido hoje serve de refugio para importantes espécies da fauna e flora. Como nem tudo no momento nem tudo são flores e nem rios, lidamos com a outra face da realidade, nunca antes contada nos poemas do nosso conterrâneo Casimiro de Abreu. Que realidade é esta?! Bem, o assoreamento do Rio São João provocado pelas construções em APP; O despejo de substancias químicas por indústrias instaladas às margens do rio, elevando assim os níveis de amônia e tornando o este impróprio para banho e consumo. Sem falar em todos os resíduos despejados pelas construções que estão dentro da FMP, a redução do fluxo das águas devido os desvios do curso do rio, que somado a destruição da restinga que ocasiona conseqüentemente o avanço do mar, criamos condições para uma catástrofe ambiental. MAR AVANÇANDO – RESTINGA + RIO SEM VOLUME = Perdas irreparáveis, inclusive minha rua. Serpa que as pessoas não percebem isso?! Esta realidade é gritante e mesmo com este cenário desenhado os moradores da minha rua ainda possuem suas redes de esgoto ligadas na rede pluvial, não adotaram ainda a fossa filtro e sumidouro, provocam queimadas, acumulam lixo em teremos baldios – acreditam que solucionam seus problemas com o lixo, mas acabam atraindo vetores que acabam se refugiando em suas residências; Lavam com muita freqüência calçadas e carros e neste caso minha mãe não fica de fora rs Por falar em carros ... é impressionantes, como em uma cidade que não tem mais de 3km de via principal, grande maioria das pessoas se locomovem com seus automóveis.
Enfim, mais que uma simples postagem para meu blog, um desabafo...  Assim como Barra de São João não estava preparada para receber todos os sonhadores que vieram em busca do sonho “Petróleo”, também não estamos preparados para lidar com as problemáticas ambientais. Precisamos de uma mudança/ transformação de hábitos e comportamentos tornando-os mais conscientes, preocupados com a melhoria da qualidade de vida, a partir da mudança de postura frente as questões ambientais. Precisamos de uma Gestão Pública que alie meio ambiente e desenvolvimento e que veja a necessidade de se priorizar a reversão do quadro ambiental existente. Precisamos de uma comunidade crítica, que questione e repensem (como fiz hoje) os seus hábitos de consumo e comportamentos que não condizem com a transformação que desejam. Precisamos fazer com que as pessoas percebam que a transformação é uma questão delas, mas que o planeta, o País, o Estado, a Barra de São João é Nossa!


Um comentário:

  1. Carlinha online inline e fora da line...
    Minha GRANDE amiga criativa expressiva e humanista revolucionária..
    Tenho certeza que esse olhão aí tem muito a olhar e a contar!!

    um bjo no coração.. solta o verbo xuxu que estamos aqui pra validar!!

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